Curtas Jornadas Noite Adentro (2021) | Análise
01/11/2024Análise escrita por Sophia de Lacerda.
Com paisagens e personagens autenticamente brasileiros, o espectador é convidado a adentrar nas libertadoras e pulsantes madrugadas com sambistas paulistanos, mais especificamente, seis integrantes de um grupo de samba chamado “Zagaia”, criado para o filme. Curtas Jornadas Noite Adentro (2021), dirigido por Thiago B. Mendonça, compõe a sessão de longas da 14 MCDH em homenagem à grande montadora Cristina Amaral.
Durante o dia, o filme acompanha o cotidiano e os “trampos” daqueles personagens que vivem, como a grande maioria dos brasileiros, em uma realidade de opressão socioeconômica e marginalização. Porém, Curtas Jornadas trata seus personagens como pessoas multifacetadas, trazendo à tona suas relações com o trabalho, a família, os amigos, o preconceito e, principalmente, com aquilo que alimenta a alma: a música.
O longa conta com sequências musicais envolventes que dominam as madrugadas em contraste com o dia a dia. A montagem de Cristina Amaral é primorosa em unir as histórias paralelas dos personagens, contrapondo a vida dura e muitas vezes silenciosa à vivacidade das rodas de samba. O ritmo cadenciado ecoa mais do que simplesmente os batuques do samba, alcançando um lado mais sensível e pessoal dos personagens que não é necessariamente visível. A arte não é o que eles fazem para sobreviver, mas é o que os mantém vivos. O samba cria espaço para a expressão, para a poesia e para que as pessoas da periferia sejam autoras de sua própria arte. Cada integrante da roda tem suas dores e seus problemas, mas a música enfeitiça e faz com que eles se unam em um propósito só.
Curtas Jornadas Noite Adentro também conta uma história de resistência e de afirmação da ancestralidade negra africana do samba, que é de extrema importância em meio a uma realidade tão excludente e discriminatória. Além disso, o repertório musical é vasto e homenageia o samba paulista, incluindo diversos artistas, novos e antigos, de diferentes regiões de São Paulo.
Apesar de não ser um documentário, o filme atravessa profundas camadas sociais da realidade brasileira, especialmente para quem almeja ser artista em meio à opressão. O longa é uma carta de amor genuína ao samba, mas, mais do que isso, demonstra ser um importante ato de representar e preservar uma cultura que é tão presente no Brasil, mas pouco explorada pelo cinema ficcional.
Serviço:
14º Mostra Cinema e Direitos Humanos
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