Direito do Acesso à Moradia: reflexões a partir do filme Central do Brasil (1998)
23/10/2024Coluna escrita por Isabelle Barros Alves.
Em 1998, chegou aos cinemas de todo o país o filme Central do Brasil. Dirigida por Walter Salles, a trama acompanha o encontro entre a professora aposentada Isadora (Fernanda Montenegro) e o jovem órfão Josué (Vinícius de Oliveira). Isadora trabalha como escritora de cartas para pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. É lá que ela conhece Josué e sua mãe, que acaba falecendo após ser atropelada.
Após a perda da mãe, Josué se abriga na estação, na esperança de que tudo tenha sido um erro. Enquanto espera, o garoto de nove anos enfrenta várias formas de violência, tanto físicas quanto simbólicas, em um lugar que, em teoria, deveria ser seguro. Sem ninguém a quem recorrer na cidade, ele passa a dormir no chão da estação, tornando-se parte da triste estatística de jovens sem acesso à moradia. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, em 2023, um em cada mil brasileiros vive sem um lar, e as pessoas negras e pardas são as mais afetadas por essa realidade.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a população em situação de rua no Brasil cresceu 38% nos últimos três anos. Com o acumulado da última década, esse aumento chega a 221%. Mesmo com esse crescimento alarmante, a falta de dados precisos é um grande obstáculo. As pessoas em situação de rua, além de invisíveis nas ruas das grandes cidades, sofrem com a ausência de políticas públicas que deveriam ser baseadas em números concretos. Essa falta de registros tem consequências graves, dificultando a criação de soluções eficazes para o problema.
Central do Brasil (1998) também explora as desigualdades entre as regiões brasileiras, especialmente através da jornada de Isadora e Josué rumo ao interior do Nordeste, onde o menino espera encontrar o pai. A migração interna e as dificuldades enfrentadas por quem deixa sua terra natal em busca de uma vida melhor são questões centrais no filme, que reflete sobre as dificuldades de milhões de brasileiros que vivem na pobreza ou são analfabetos.
A busca incansável de Josué por sua família nos leva a pensar sobre a importância de ter um lar, seja ele físico, seja emocional. No Brasil, o acesso à moradia digna ainda é um desafio para muitos, e esse direito constitucional básico está diretamente ligado à cidadania e à dignidade humana. Enquanto a desigualdade persistir, histórias como a de Josué continuarão a ecoar nas ruas do país, onde milhões de pessoas lutam diariamente para encontrar um lugar que possam chamar de lar.
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