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Promoção da Liberdade Religiosa: do sincretismo no século XVI aos famosos no século XXI

18/09/2024

Coluna escrita por Isabelle Barros Alves.

Você sabe quantos grupos religiosos existem no mundo? Essa é uma pergunta complexa, e a resposta depende de como se define “religião”, que pode ser entendida como o esforço humano para compreender o divino, buscando respostas para as questões da vida e do universo. Essa busca pode ser por meio de rituais, orações e outras práticas espirituais. 

Segundo o Joshua Project, uma organização americana que estuda grupos culturais, existem mais de 17 mil grupos etnolinguísticos. Eles são classificados dentro das maiores religiões do mundo, como o cristianismo, islamismo, budismo, judaísmo, entre outras.

No Brasil, a pluralidade religiosa é uma característica marcante desde os tempos coloniais. Você já ouviu falar do sincretismo religioso? Esse fenômeno acontece quando diferentes tradições religiosas se misturam. Nas terras brasileiras, o sincretismo religioso surgiu principalmente como resultado do encontro entre os colonizadores europeus, os povos indígenas e os africanos escravizados. 

Durante a colonização, os jesuítas, enviados pela Igreja Católica, tentaram converter à força as populações indígenas e africanas ao catolicismo. No entanto, essas populações encontraram maneiras de preservar suas próprias tradições religiosas, disfarçando seus deuses e práticas como sendo parte do catolicismo. 

Após a oficialização da República, foi declarado que o Estado brasileiro deveria ser laico, ou seja, separado de qualquer religião oficial. Isso significa que, na teoria, o país não teria uma religião estatal, e todos os cidadãos teriam o direito de escolher e praticar livremente suas crenças. Mesmo assim, o preconceito e a intolerância religiosa continuam a ser problemas graves na sociedade brasileira.

Segundo dados recentes da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, no primeiro semestre de 2024, as denúncias de intolerância religiosa aumentaram 80% em comparação ao mesmo período de 2023. As principais vítimas desses ataques são os praticantes de religiões de origem africana, como o Candomblé e a Umbanda, além de mulheres e pessoas negras. Esses grupos têm sido alvos de agressões físicas e verbais, vandalismo de templos e outras formas de violência. 

Diante desse cenário, é essencial promover o diálogo inter-religioso, o qual não apenas ajuda a dissipar mal-entendidos e estereótipos, mas também destaca os valores e princípios comuns que muitas crenças compartilham. Nessa noção, as redes sociais têm desempenhado um papel cada vez mais importante. 

Um exemplo recente desse fenômeno foi o lançamento da música “Aceita”, da cantora Anitta, em maio de 2024, que celebra a diversidade religiosa, incluindo referências ao Candomblé. Ao divulgar o lançamento em suas redes, Anitta compartilhou imagens e vídeos relacionados ao tema, mas, logo após a publicação, perdeu mais de 200 mil seguidores. Anitta, que tem uma grande projeção internacional, usou sua influência para chamar atenção para a necessidade de respeito e aceitação da diversidade religiosa, lamentando que tais discriminações ainda estejam presentes em pleno século XXI.

Outro caso recente que gerou grande discussão foi a morte de Silvio Santos, em agosto de 2024. Silvio, cujo nome verdadeiro era Senor Abravanel, era um dos maiores comunicadores do Brasil e fundador do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Sua morte causou comoção nacional, mas uma questão chamou atenção: como seria o velório de Silvio? Como judeu sefardita, Silvio seguiu a tradição religiosa do shivá, um ritual judaico em que o velório é restrito à família e amigos próximos. 

Essa escolha, que faz parte dos preceitos do judaísmo, foi amplamente respeitada pelo público e pela mídia. Não houve críticas ou reações negativas à decisão da família Abravanel de seguir os costumes judaicos. O contraste entre a reação pública ao caso de Silvio Santos e ao de Anitta levanta questões importantes sobre como diferentes religiões são tratadas na sociedade. Por que algumas religiões recebem maior aceitação e respeito, enquanto outras, especialmente de origem africana, enfrentam preconceito e intolerância?

Esse contraste reflete um problema mais profundo no Brasil: o preconceito religioso, que muitas vezes está ligado a questões de raça e classe. Para combater esse preconceito, é necessário não apenas promover o diálogo inter-religioso, mas também educar a população sobre a importância da multiplicidade religiosa e cultural. O caminho para essa transformação depende da conscientização e da ação coletiva em prol de uma convivência harmoniosa entre as diversas tradições e crenças que coexistem no país.

Serviço:
14º Mostra Cinema e Direitos Humanos

Assessor de Imprensa da Mostra:
Jéferson Cardoso
jefersonzc@gmail.com

Para dúvidas e mais informações:
oficialmcdh@gmail.com

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